Álcool e Diabetes – Posso beber se tenho Diabetes?

Álcool e Diabetes

Sendo portador de diabetes, será que é possível ingerir bebidas alcoólicas, como uma cerveja ou uma dose de whiskey? Ou será que nunca mais será possível tomar uma bebidinha com os amigos? Como eu gosto bastante de umas cervejas, fui pesquisar a fundo o assunto, pois com DM1 (diabetes tipo 1) não posso me dar ao luxo de errar. E aqui irei compartilhar o que aprendi a respeito da combinação Diabetes + Bebidas Alcoólicas. No final do artigo você encontrará links para os recursos pesquisados, para poder se aprofundar ainda mais no assunto.

No geral, não é proibido ingerir bebidas alcoólicas a um diabético. Porém, é altamente recomendável que a quantidade de bebida consumida seja limitada, pois esse consumo pode trazer alguns riscos adicionais. As orientações dos especialistas indicam que não devemos ingerir mais do que duas doses padrão de álcool por dia. Mas o que seria uma dose padrão? Vejamos.

Cervejas variadas: Patagônia, COlorado Appia, Baden Baden
Última compra de cervejas que fiz, duas semanas antes de descobrir que tenho Diabetes Tipo 1.

O que é um drink padrão ou dose padrão?

Um drink padrão ou medida padrão (standard drink) equivale a uma dose de bebida que contenha 10 gramas de álcool em sua composição. Assim, por exemplo, uma bebida que tenha um teor alcoólico de 10% terá como dose padrão 100 ml da bebida, pois 10% x 100 ml = 10 gramas de álcool.

Na prática, um drink padrão equivale aproximadamente a:

  • Uma lata de 285 ml de cerveja comum (pilsen / lager), com cerca de 4,5 a 5% de teor alcoólico (arredondando)
  • 375ml de cerveja de médio teor alcoólico, cerca de 4% de teor alcoólico
  • Uma garrafa ou lata de 425 ml de cerveja de baixo teor alcoólico (abaixo de 3% de álcool)
  • Uma taça de vinho seco com 100ml da bebida
  • Um cálice de 60ml de vinho fortificado, como vinho do Porto ou Xerez.
  • Uma dose de 30ml de destilado com cerca de 40% de teor alcoólico.

É importante ter esses valores em mente, para poder dimensionar corretamente a quantidade de álcool consumida e evitar o consumo excessivo, o que pode causar problemas sérios a quem tem diabetes. É comum em bares e restaurantes que sejam servidas doses maiores do que as doses padrão acima mencionadas, e por conta disso teremos de fazer alguns cálculos para saber exatamente quanto álcool é consumido.

Por exemplo, uma lata de cerveja comum, como uma Heineken com 350ml de volume e 5% de teor alcoólico possui:

350ml x 5% = 17,5g de álcool, quase o equivalente a duas doses padrão.

A mesma lata, porém de cerveja de baixo teor alcoólico, como uma Wexford de 3%, terá:

350ml x 3% = 10,5g de álcool, ou basicamente uma dose padrão.

Desta forma, é importante saber o teor alcoólico da bebida que você for ingerir, e também a quantidade de carboidratos presentes, pois isso pode levar a ganho de peso, um problema conhecido entre diabéticos (e não diabéticos também). Assim é possível dimensionar também a quantidade de insulina a ser aplicada, caso você seja diabético dependente de insulina (como eu).

Bebidas alcoólicas e carboidratos

Note que a quantidade de álcool presente em cada dose padrão das bebidas mencionadas é basicamente a mesma. Porém, existe uma diferença significativa entre essas bebidas: a quantidade de carboidratos.

As cervejas possuem muito mais carboidratos do que o vinho ou destilados, variando de 10 a 20 gramas por latinha de 350 ml (dependendo do estilo da cerveja). Cervejas escuras possuem mais carboidratos, por isso é importante ficar atento à quantidade de carboidratos de cada tipo.

Já os vinhos possuem de 2 a 4 gramas de carboidrato por taça – desde que seja vinho seco. Vinhos suaves possuem açúcar, o que obviamente aumenta a quantidade de carboidratos na bebida, podendo até mesmo alcançar os valores das cervejas.

As bebidas destiladas, como uísque, gim, vodka e rum, entre outros, não possuem quantidades significativas de carboidratos,e por isso poderiam ser considerados mais adequados para um diabético. Porém, isso não significa que não tenham calorias – o álcool em si possui cerca de 7 kcal por grama, e por isso é importante ficar atento, principalmente se você tiver de seguir alguma dieta com restrição calórica. Lembre-se de que o álcool também pode elevar o nível de triglicérides no sangue, além da pressão arterial, o que pode aumentar o risco de doença cardiovascular.

É importante frisar que licores como Amarula e Limoncello, e drinks como Mojito, Caipirinha, Cuba Libre, Sex on the Beach e outros podem conter grandes quantidades de açúcar misturado e, por isso, devem ser evitados na medida do possível. 

É sempre importante lembrar que, se você estiver grávida ou amamentando, ou for dirigir, o consumo de bebidas alcoólicas deve ser ZERO.

Afinal, quanto um diabético pode beber de álcool?

Primeiramente, uma pessoa com diabetes pode beber bebidas alcoólicas com moderação, desde que não tenha outras doenças associadas, como doenças do coração, altos níveis de triglicérides no sangue, pressão alta ou problemas nos olhos causados pela diabetes, por exemplo. Porém, recomenda-se que não seja ultrapassado o limite de duas doses padrão por dia – na prática, talvez seja possível beber um pouquinho mais em alguma ocasião muito especial e ocasional, mas isso varia de pessoa para pessoa e deve-se sempre evitar beber mais do que quatro drinks padrão de uma vez neste caso.

Também é importante não beber todos os dias, deixando de dois a três dias por semana ao menos como dias de abstenção de álcool.

Lembre-se de que beber álcool aumenta o risco de tornar a diabetes instável, com grandes flutuações da taxa de glicose no sangue ocorrendo. Por isso é importante conhecer esses riscos, para que seja possível dimensionar de forma mais segura a quantidade e o tipo de álcool que poderá ser ingerido, quando for o caso.

Efeitos do álcool no organismo de um diabético – interação com a glicemia

O álcool interfere com as funções do fígado, o que pode levar a grandes flutuações do nível de glicose no sangue, incluindo quedas drásticas na glicemia, sem que a pessoa perceba. Também interage com a insulina. Isso pode levar a uma hipoglicemia, várias horas depois da ingestão ou até mesmo no dia seguinte – ocorre em pessoas sem diabetes, quando “bebem todas” e acabam no hospital, necessitando tomar glicose na veia. Imagine o que pode acontecer com um diabético, principalmente se for dependente de insulina! Tem de ficar esperto.

Quando ingerimos bebidas alcoólicas, o fígado interpreta a bebida com uma toxina (o que na verdade é) e se ocupa em processá-la. Até que o álcool seja completamente processado e eliminado do organismo, o fígado não libera mais glicose no sangue, que é uma de suas funções (controle dos níveis de açúcar no sangue), o que com o passar do tempo (algumas horas) faz com que a glicemia diminua constantemente, e isso pode levar a um episódio de hipoglicemia.

O fígado metaboliza aproximadamente o equivalente a um drink a cada duas horas. Logo ao beber, o nível de glicose pode subir, pois dependendo da bebida há carboidratos presentes (como as cervejas em geral), mas assim que o fígado começa a processar a bebida, esse nível começa a cair. A hipoglicemia pode ocorrer durante a ingestão da bebida (se for prolongada) ou até mesmo várias horas depois.

Outro problema é que, quando bebemos muito, podemos perder a habilidade de pensar claramente, e isso pode levar a uma reação em espiral muito perigosa, pois a pessoa pode simplesmente decidir beber muito mais do que deveria, aumentando cada vez mais seu risco. Além disso, o álcool estimula o apetite, o que pode fazer com que sejam consumidos muitos alimentos – petiscos ou porções, por exemplo – o que claramente pode ser um grande problema para portadores de diabetes.

Quem tem diabetes e consome álcool em excesso e frequentemente pode ter agravadas algumas das complicações mais comuns da doença, como danos aos nervos (neuropatia diabética) e piorar problemas nos olhos.

Se for beber álcool, teste sua glicemia e, se perceber que está abaixo do normal, ingira algum carboidrato de absorção rápida, como um copo de suco de frutas, uma latinha pequena de refrigerante (não diet), 3 colheres de chá de açúcar ou tabletes de glicose, com cerca de 15g de carboidratos. Não vacile com isso, pois uma vez instalado um quadro de hipoglicemia, você pode ser incapaz de se cuidar sozinho e, o pior, seus amigos podem achar que seus sintomas são por conta da bebida – a hipoglicemia apresenta alguns sintomas que lembram um pouco estar bêbado.

Cerveja Fábio Punta del Este
Ainda é possível apreciar uma boa cerveja, mas com muita moderação.

Dicas para quem vai beber e é diabético

  • Primeiro e muito importante: pergunte a seu médico se o seu caso permite a ingestão de bebida alcoólica, caso contrário de nada valerão as próximas dicas.
  • Nunca beba de estômago vazio. Sempre coma algo contendo carboidrato antes de começar a beber.
  • No geral, níveis de glicemia entre 100 e 140 mg/dL são considerados seguros para o consumo moderado de álcool. Teste-se!
  • Carregue consigo algum snack de carboidratos extra, para o caso de você ter uma hipo.
  • Tenha algum tipo de identificação consigo que diga claramente que você tem diabetes, caso você vá parar em um hospital.
  • Beba lentamente e alterne a bebida alcoólica com um copo de água, o que permite diluir o conteúdo alcoólico no estômago.
  • O álcool estimula o apetite, por isso fique de olho para não comer demais ao beber, principalmente se forem porções com carboidratos, como batatas-fritas ou mandioca.
  • Nunca pare de tomar sua insulina! Caso contrário, você pode acabar com níveis muito elevados de glicose no sangue logo após beber, o que eleva o risco de cetoacidose diabética.
  • Coma um lanchinho ou um snack antes de deitar, como um pedacinho de chocolate ou uma barrinha de cereais.
  • Verifique seu nível de glicose antes de ir dormir, para se certificar de que não está abaixo do normal para o horário.
  • Se possível, acorde de madrugada e repita o teste de glicemia.
  • Preferivelmente, não beba sozinho; ter alguém por perto pode ser de muita ajuda caso você precise. E lembre-se sempre de informar a seus amigos que você tem diabetes, para que saibam o que fazer em uma emergência.
  • Não é necessário reforçar que você não deve beber demais!

Referências

NDSS – National Diabetes Services Scheme Australia.  Alcohol Fact Sheet. NDSS. Abril de 2020.

NDSS – National Diabetes Services Scheme Australia. Alcohol and Type 1 Diabetes Booklet.

Sociedade Brasileira de Diabetes. Diabetes e Álcool: Beber ou não beber, eis a questão. Disponível em:
https://www.diabetes.org.br/publico/colunas/88-dra-andressa-heimbecher-soares/782-diabetes-e-alcool-beber-ou-nao-beber-eis-a-questao. Acesso em 06/06/2020.

WebMD. Diabetes and Alcohol. Disponível em: https://www.webmd.com/diabetes/guide/drinking-alcohol. Acesso em: 06/06/2020

 

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